quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Elza Soares - Planeta Fome (2019)


Elza Soares acaba de lançar este disco com o oportuno nome Planeta Fome, voltando à velha - e recorrente - realidade brasileira da desigualdade e da marginalização de negros e pobres, realidade que a fez responder a Ary Barroso, na década de 50, no seu programa de calouros na Rádio Tupi, que vinha do "planeta fome", quando ele perguntou "de que planeta você veio?" Politizada (veja algumas letras abaixo) e moderníssima, Elza está colada na vanguarda da música brasileira atual. O disco tem participações de Baiana System, Orkestra Rumpilezz, Virginia Rodrigues, BNegão, Pedro Loureiro e Rafael Mike e inclui a inédita gravação de uma composição própria, Menino. Destaque para o incrível e contundente rap roqueiro Blá Blá Blá, de André Gomes, BNegão, Dj Meme, Gabriel Contino e Pedro Loureiro, com um refrão inusitado, Brasis, de Seu Jorge, Gabriel Moura e Jovi Joviniano, a regravação - muito oportuna - de Comportamento Geral e Pequena Memória para um Tempo sem Memória, de Gonzaguinha, Lírio Rosa, de Pedro Loureiro e Luciano Mello, Tradição, de Sérgio Britto e Paulo Miklos, a ótima Não Tá Mais de Graça, com Rafael Mike e a música-manifesto País do Sonho, de Chapinha da Vela e Carlinhos Palhano. Atenção para os belos arranjos de cordas e violino de Felipe Ventura!

Faixas:
1. Libertação (feat. Baiana System, Orkestra Rumpilezz, Virgínia Rodrigues)
2. Menino
3. Brasis
4. Blá Blá Blá (feat. Bnegão, Pedro Loureiro)
5. Comportamento Geral
6. Tradição
7. Lírio Rosa
8. Não Tá Mais de Graça (feat. Rafael Mike)
9. País do Sonho
10. Pequena Memória Para Um Tempo Sem Memória
11. Virei o Jogo
12. Não Recomendado

Ouça em https://elzasoares.lnk.to/PlanetaFomeID










Blá Blá Blá

Composição de André Gomes/Bnegão/Dj Meme/Gabriel Contino/Pedro Loureiro. Refrão: "Me Dê um Motivo" (Michael Sullivan/Paulo Massadas)

Chega!
Que mundo é esse?
Eu me pergunto
Chega!
Quero sorrir, mudar de assunto
Falar de coisa boa
Mas a minha alma ecoa
Agora, um grito, eu acredito que você vai gritar junto

A partir de agora a Terra é plana
2 + 2 são 7
O quilo vale 700 gramas
Terrorista será
Aquele que não bota veneno na sua mesa ou na plantação
Heróis laureados serão
Os que contaminam, adoecem, matam mais rápido a população
Sem saúde e educação
Se faz um povo mais feliz e avançado
Esse é o novo mundo esse é o meu recado

Chega!
Que mundo é esse?
Eu me pergunto
Chega!
Quero sorrir, mudar de assunto
Falar de coisa boa
Mas a minha alma ecoa
Agora, um grito, eu acredito que você vai gritar junto

Então
Me dê motivo pra ir embora
Estou vendo a hora de te perder
Me de motivo, vai ser agora
Estou indo embora, o que fazer?

Me dê motivo!
Pra ir morar em outro lugar
Me dê motivo!
Pra deixar meu país pra lá
Falar de coisa boa
Mas a minha alma ecoa
Agora, um grito, eu acredito que você vai gritar junto

O negócio é o seguinte: Negociata total!
O patriota agora nem vende ou aluga o país
O novo patriota cede gentilmente as terras
E as armas do seu povo pra América do Norte
Eu quis dizer outra coisa
Mas é isso mermo que eu não pretendia dizer
Não, calma, pera aí

Esse arquivo era pra ser secreto
Se tem um decreto, pra que debates?
Trinta por cento de cem dá três chocolates
Aposto o meu doutorado na faculdade americana
Me engana que eu gosto, me manda que eu posto
Se a reforma não passar, não vamos ter dinheiro pra contratar
Se a reforma não passar, o Brasil vai quebrar!

É muito blá, blá, blá, blá, blá
É tanto blá, blá, blá, blá, blá

Então
Me dê motivo pra ir embora
Estou vendo a hora de te perder
Me de motivo, vai ser agora
Estou indo embora, o que fazer?

Me dê motivo!
Pra ir morar em outro lugar
Me dê motivo!
Pra deixar meu país pra lá
Falar de coisa boa
Mas a minha alma ecoa
Agora, um grito, eu acredito que você vai gritar junto
Me dê motivo


Brasis

Composição de Gabriel Moura / Jovi Joviniano / Seu Jorge

Tem um Brasil que é próspero
Outro não muda
Um Brasil que investe
Outro que suga

Um de sunga
Outro de gravata
Tem um que faz amor
E tem o outro que mata

Brasil do ouro
Brasil da prata
Brasil do balacochê
Da mulata

Tem o Brasil que cheira
Outro que fede
O Brasil que dá
É igualzinho ao que pede

Pede paz e saúde
Trabalho e dinheiro
Pede pelas crianças
Do país inteiro

Tem um Brasil que soca
Outro que apanha
Um Brasil que saca
Outro que chuta
Perde, ganha
Sobe, desce
Vai à luta, bate bola
Porém não vai à escola

Brasil de cobre
Brasil de lata
É negro, é branco, é nissei
É verde, é índio peladão
É mameluco, é cafuzo
É confusão

Oh, Pindorama eu quero o seu porto seguro
Suas palmeiras, suas feiras, seu café
Suas riquezas, praias, cachoeiras
Quero ver o seu povo de cabeça em pé

Vai pra frente Brasil!

Tem o Brasil que cheira
Outro que fede
O Brasil que dá
É igualzinho ao que pede

Pede paz e saúde
Trabalho e dinheiro
Pede pelas crianças
Do país inteiro

Brasil do ouro
Brasil da prata
É negro, é branco, é nissei
É verde, é índio peladão
É mameluco, é cafuzo
É confusão

Oh, Pindorama eu quero o seu porto seguro
Suas palmeiras, suas feiras, seu café
Suas riquezas, praias, cachoeiras
Quero ver o seu povo de cabeça em pé
Quero ver esse povo de cabeça em pé
Quero ver o seu povo de cabeça em pé
Brasil de cabeça em pé!


País do Sonho

Composição de Carlinhos Palhano / Chapinha Da Vela

Eu preciso encontrar um país
Onde a saúde não esteja doente
E eficiente, uma educação
Que possa formar cidadãos realmente

Eu preciso encontrar um país
Onde a corrupção não seja um hobby
Que não tenha injustiça, porém a justiça
Não ouse condenar só negros e pobres

Eu preciso encontrar um país
Onde ninguém enriqueça em nome da fé
E o prazer verdadeiro do crack
Seja fazer gols como Garrincha, obrigada Mané!

Eu preciso encontrar um país
Onde tenha respeito com austero pudor
E qualquer pessoa em pleno direito
Diga: Adeus preconceito de raça e de cor

Eu preciso encontrar um país
Onde ser solidário seja um ato gentil
Eu prometo que vou encontrar
E esse país vai chamar-se Brasil


Pequena Memória Para Um Tempo Sem Memória

Composição de Gonzaguinha

Memória de um tempo
Onde lutar por seu direito
É um defeito que mata

São tantas lutas inglórias
São histórias que a história
Qualquer dia contará

De obscuros personagens
As passagens, as coragens
São sementes espalhadas nesse chão

De Juvenais e de Raimundos
Tantos Júlios de Santana
Nessa crença, num enorme coração

Dos humilhados e ofendidos
Explorados e oprimidos
Que tentaram encontrar a solução

São cruzes sem nomes, sem corpos, sem datas

Memória de um tempo
Onde lutar por seu direito
É um defeito que mata

E tantos são os homens por debaixo das manchetes
São braços esquecidos que fizeram os heróis

São forças, são suores que levantam as vedetes
Do teatro de revistas que é o país de todos nós

São vozes que negaram liberdade concedida
Pois ela é bem mais sangue
É que ela é bem mais vida

São vidas que alimentam nosso fogo da esperança
É o grito da batalha
Quem espera sempre alcança

Êê, quando o Sol nascer
É que eu quero ver quem se lembrará
Êê, quando amanhecer
É que eu quero ver quem recordará
Ahhhh, não quero esquecer
Essa legião que se entregou por um novo dia
E eu quero é cantar essa mão tão calejada
Que nos deu tanta alegria
E vamos à luta

Que país é esse?

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